Para podermos experimentar um caminho de possibilidades, é importante desenvolvermos a escuta ativa. E o que é, antes de tudo, essa tal de escuta ativa?
Para podermos experimentar um caminho de possibilidades, é importante desenvolvermos a escuta ativa.
E o que é, antes de tudo, essa tal de escuta ativa?
A escuta ativa é a habilidade que se tem de focar de forma completa e inteira no que o outro está nos dizendo e no que ele não está nos dizendo – o que percebemos nas entrelinhas. Escuta ativa é estar completamente presente diante da pessoa com quem se está. Na escuta ativa você é capaz de ouvir nas palavras, no tom de voz, na linguagem do corpo o que a pessoa está querendo dizer e o que muitas vezes ela não expressa – seja por medo ou por não saber. Na escuta ativa você é capaz de perceber as preocupações, necessidades, valores e crenças. Quando você escuta ativamente, é capaz de parafrasear ou resumir o que o outro disse para ter clareza do seu entendimento. A escuta ativa permite-nos descobrir possibilidades que ainda não são aparentes.
Betty Sue Flower coloca que a maior parte das pessoas não entende que existe mais de uma maneira de escutar. As pessoas diferenciam a função criativa masculina, mas não sabemos diferenciar a função receptiva feminina.
Katrin Kaufer, em seu estudo com pesquisadores, identificou uma forma crescente de falar e escutar alinhada ao modelo da Teoria U que Otto Schamer estava desenvolvendo. Este modelo coloca que existem quatro formas distintas de falar e escutar e que elas se diferenciam pelo lugar a partir do qual operamos. Essas maneiras mostram as diferenças que existem na prioridade dada ao todo ou às suas múltiplas partes e daí são reproduzidas realidades existentes ou são criadas realidades novas. Essas vias podem ser utilizadas de forma intencional e habitual nos mais diversos contextos e sequências.
Vejamos brevemente quais são as quatro formas de falar e escutar identificadas por Otto Scharmer.
Downloading: eu ouço a partir de mim mesmo, da minha história. Só escuto o que confirma minha própria história.
Falas: “É o que eu sempre digo, é o que eu acho, minha história é única e verdadeira, só existe um todo, os outros eu ignoro, eu suprimo.”
Comportamentos típicos de fundamentalistas, ditadores, arrogantes, furiosos e medrosos.
Debater: eu ouço de fora, factual e objetivamente, conforme um juiz durante uma argumentação ou julgamento; isso é certo ou isso é errado.
Falas: a partir de ideias, cada um diz o que pensa; existem ganhadores e perdedores. “Na minha opinião…”
Esta forma é um pouco mais aberta porque expressa uma visão e a consciência de si próprio, e não uma verdade.
Dialogar: eu escuto o outro como se estivesse dentro dele, com empatia e subjetividade; entendo a opinião do outro.
Falas: “Na minha experiência…” Esta é uma forma autorreflexiva. Existe abertura para novas possibilidades e expressa seu próprio poder de amor.
Presenciar: Perceber o que está surgindo. Neste modo eu estou além de mim e do outro; existe algo maior que ambos. A percepção deixa de ser restrita ou específica para ser sistêmica.
Fala: “O que eu percebo aqui e agora é que…”
Quando se está presente, é como se as barreiras entre as pessoas desaparecessem. Quando falo desse lugar, falo de e para um sistema maior que tudo.
Nesse lugar, Nelson Rodrigues traz um elemento importante. Ele diz que as pessoas acreditam que na comunicação o importante é a fala, mas que é na pausa (silêncio) que elas entram em comunhão e se entendem.
Resumindo, o que essa percepção nos traz é que se ficarmos apenas fazendo o downloading ou debatendo, vamos repetir realidades já existentes e será difícil fazer algo realmente novo e diferente. Cocriar realidades depende da permissão que cada um tem para dialogar e estar presente.