O jogo da Culpa

O jogo da Culpa

O jogo da Culpa

Uma das coisas que a maioria das pessoas faz é culpar o outro por seus problemas, dificuldades, mazelas. Culpa a mãe por não ter dado carinho – e por isso a pessoa é assim… Culpa o pai por abandono – e por isso a pessoa é assim… Culpa os professores, os amigos, o(a) namorado(a), os avós, os tios, os políticos pela atual situação do País… Culpa todo mundo, isentando-se de sua própria responsabilidade.

Em outra situação, a pessoa sente-se culpada por ter feito algo de errado, por ter magoado alguém querido e por aí vai. Se eu for colocar todos os tipos de culpa que eu mesma já me impus até descobrir que a responsabilidade por estar nesse lugar era minha, seriam algumas páginas, mas posso dizer que sofri muito com isso.

O problema em si não é a pessoa que culpa, mas a maneira como ela foi ensinada e como a sociedade, de um modo geral, alimenta isso. A todo momento somos levados a sentir culpa e quando você não sente, é visto como egoísta. Na verdade, quando você não sente culpa ou não culpa o outro, você está procurando solução para a questão. No livro Trabalhando com o inimigo, Adam Kahane coloca que “culpar os outros é uma forma comum e preguiçosa de fugir do trabalho”.

Culpar o outro é uma forma de se defender e se definir.

Existem duas maneiras pelas quais podemos perceber e entender nosso papel em uma situação. A primeira é como o diretor de uma peça, que orienta os atores em cena, ou como espectador que assiste a ela. Nas duas situações a pessoa está distanciada da situação. A segunda maneira é fazendo parte da peça; é quando a plateia influencia e participa da ação que acontece no palco, ou seja, o espectador é parte da peça, sendo, assim, cocriador do que está acontecendo.

Quando deixamos de olhar para nós mesmos na situação, focando no que o outro deveria fazer, deixamos de pensar em nossas próprias ações. Na medida em que mudamos o foco, acabamos por nos libertar e tomar a ação e daí é possível mudar; deixamos de culpar, pressionar, coagir ou esperar que o outro tenha que mudar, ou seja, fazemos parte da ação. Para isso é importante perceber nosso papel e responsabilidade no que fazemos. Adam Kahane cita Bill Torbert, estudioso em liderança, que diz: “o ditado ativista de ‘se você não é parte da solução, é parte do problema’ deixa de lado um fato importante de que, se você não faz parte do problema, então não pode fazer parte da solução”.

E como assumir a responsabilidade por meus atos e ações e deixar de culpar os outros pelas situações? Em primeiro lugar, saia da vitimização. Você sabia que a vitimização é um sabotador que todos nós temos? É preciso identificar, nomear e exercitar o músculo do sábio para que o sabotador deixe de atuar. Faça isso no momento em que se sentir vítima; preste atenção consciente a uma sensação física e com isso poderá ativar o lado direito de seu cérebro.

Outra forma é assumir a responsabilidade por seus atos; pedir perdão ou dizer “sinto muito” e realmente aprender com os erros para não cometê-los novamente. Com relação aos políticos, ao invés de reclamar, de dizer que não vai votar em ninguém, que não gosta de política, lembre-se de algumas frases de Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política; eles simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. “A punição que os bons sofrem, quando se recusam a agir, é viver sob o governo dos maus”.

O único responsável por nossos pensamentos, pelo que dizemos, percebemos, sentimos e fazemos somos nós mesmos e, na mesma proporção, somos igualmente responsáveis ao contrário.

Na maioria das vezes procuramos a fonte ou a solução de um problema fora de nós mesmos. Culpamos o mundo, sem antes procurarmos dentro de nós o que está acontecendo.

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