Sentimentos: Algo tão presente e tão distante!

Sentimentos: Algo tão presente e tão distante!

Sentimentos: Algo tão presente e tão distante!

Não fomos ensinados a deixar a emoção fluir, nem fazer contato com sentimento. Daí nos tornamos analfabetos de sentimento.

Sentimentos: Algo tão presente e tão distante!

Desejo começar meu artigo esclarecendo a respeito do que é sentimento. Muitas pessoas confundem EMOÇÃO com SENTIMENTO.

Primeiro a emoção é um conjunto de respostas motoras que o cérebro faz aparecer no corpo como resposta a algum evento. Um exemplo, a emoção do medo, pode ser um nó na garganta, uma dormência ou qualquer outro desconforto físico.

Já o sentimento são aquelas sensações que vão lá no fundo da alma. E que, se a pessoa não quiser, ninguém jamais vai saber seu sentimento.

Uma das coisas que tenho aprendido ao longo desses anos estudando várias áreas é que não fomos ensinados a deixar a emoção fluir e nem fazer contato com sentimento. Daí nos tornamos analfabetos de sentimento.

Relendo um dos livros do Marshall Rosenberg deparei com algo recorrente. Algo que vejo no meu entorno e que também (quando não estou em alerta) escorrego: os julgamentos morais.

Refletindo percebo que esses julgamentos morais estão inseridos em nossas crenças estruturais, as quais aprendemos em nossa infância e acabamos por mantê-las em nossas vidas.

Os julgamentos morais são aqueles que fazemos do outro quando não gostamos de uma fala ou situação e que na verdade nos afasta do que realmente sentimos ou como melhor diz Marshall, o que está vivo em nós. Aprendemos uma série de coisas na infância que são baseadas nos mais velhos e nos vieses coletivos, que colocamos como verdades. Na medida que vamos refletindo mais a fundo, buscando o autoconhecimento, percebemos que são apenas crenças e não verdades. E, portanto, podemos deixá-las.

Podemos exemplificar quando alguém fala ou faz algo que não se gosta. Em vez de se fazer contato com a emoção e o sentimento que desencadeia, fazemos um diagnóstico a respeito do outro. Com isso, provocamos que o outro se defenda ou contra-ataque.

Isso vale para ambos os envolvidos. Alguém no ambiente de trabalho não faz uma determinada atividade ou tarefa e de forma automática é feito um diagnóstico que o outro é preguiçoso, é folgado e assim por diante. Não é feito contato com a emoção e o sentimento que, pelo fato de a pessoa não ter feito a atividade, desencadeia dentro de mim. Isso fica corroendo e já vai se criando uma imagem deturpada do outro, baseada em uma crença estrutural interna de que se o outro não faz o que precisa ser feito, é porque ele é preguiçoso ou egoísta e outros adjetivos.

Agora se der uma parada e um passo para trás o que será que realmente está acontecendo dentro de mim?

Eu preciso identificar qual a atitude do outro incomodou e perceber o que eu preciso. Pode ser apoio, consideração, suporte, trabalho em equipe, porque mesmo sem que tenhamos clareza todas as atividades/tarefas são interdependentes. Contudo, como não sabemos identificar e nem nomear o que sentimos acabamos por diagnosticar e/ou rotular o outro. Dessa forma nasce um desgaste, um mal-estar, podendo gerar um conflito, que se não for olhado e trabalhado, a tendência é crescer. E assim culminando na ruptura do relacionamento ou até mesmo uma demissão ou saída voluntária da área ou até da empresa.

Interessante observar que isso é recorrente nas pessoas, nas áreas e nas empresas. E por falta de clareza, acredita-se que “sempre” o outro é “culpado” e a própria pessoa não se responsabiliza pela situação.

Um dos primeiros passos será aprender a identificar e nomear o que sente, definir os comportamentos que geraram o incômodo sem acrescentar diagnósticos ou rótulos a respeito do outro. É fácil? Claro que não porque afinal ressignificar crenças estruturais requer paciência, disciplina e presença, mas vale lembrar o filósofo Jiddu Krishnamurti que nos ajuda quando ele coloca “que a forma mais elevada da inteligência humana é a capacidade de observar sem julgar”.

É possível gradativamente fazermos as mudanças que acreditamos serem importantes para tornar nossas relações intra e interpessoais mais maravilhosas, assim como nossas vidas. Para isso gostaria de convidá-lo a exercitar. Assim como na CNV, eu também tenho observado que por meio da prática é que se torna possível mudar. E como já coloquei: requer paciência, persistência, disciplina, sem julgar, sem se culpar, vale insistir.

Escreva uma situação pela qual tenha passado ou esteja passando que tornou sua vida desconfortável. Pode ser algo que tenha sido feito ou falado ou deixado de dizer. Perceba se nessa escrita tem alguma avaliação ou diagnóstico. Depois reformule essa escrita, descrevendo de forma específica apenas o comportamento que te leva a conversar com a pessoa. Como perguntei acima, é fácil? Não. Vou conseguir da primeira vez? Talvez não, mas o segredo é continuar.

Com o tempo será possível perceber que poderá melhorar a interação consigo mesmo e com o outro. Poderá sentir menos ansiedade e angústia na medida que começar a ter clareza a seu próprio respeito, do que sente e do que necessita, abrindo espaço para o outro.

Uma das coisas que mais gosto da CNV é que podemos recomeçar a todo momento. Gradativamente abrir um caminho dentro de nós mesmos para ressignificar, transformar e evoluir.

Somos empáticos e compassivos por natureza, precisamos é resgatar essa consciência que existe no fundo do nosso ser e trazer à tona para que possamos criar uma comunidade, uma sociedade e um mundo melhor, com mais amor, fraternidade e caridade.

“Nossos sentimentos são o caminho mais genuíno para o conhecimento.” (Audre Lorde)

Wania Moraes
http://www.waniamoraes.com.br/

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